EM SÃ CONSCIÊNCIA, QUEM PODE ARREMESSAR A
PRIMEIRA PEDRA?
Vivemos uma dessas incomuns ocasiões em que, a
partir de uma nova representação tecnológica, isto é, de uma nova relação com a
sociedade moderna, um novo modelo de humanidade é concebido. Estamos num estágio
social em que o mundo virtual é quase o real; contudo, ele nos brota como sonho.
Alguns sonham com cuidado, outros se submergem nos cipoais dos desvarios
oníricos. Em todos esses estágios há o perigo de essa situação virar pesadelo.
Esse é o preço que o homem paga pelo avanço da Tecnologia da Informação (TI),
apesar de muitos cidadãos ainda não terem se dado conta de que seus atos pelas
vias virtuais estão estabelecendo desastres morais de consequências
imprevisíveis.
Vejamos: a questão aqui colocada como inquietante é o duplo
adultério ocorrido pelas ferramentas virtuais, desaguando na vida real.
Um
casal bósnio está se divorciando, depois de descobrir que um traía o outro em
chats na Internet. Detalhe: eles começaram o relacionamento virtual usando
pseudônimos, e só descobriram a verdade quando combinaram um encontro real com
os “novos parceiros”. Sana Klaric, 27 anos, e seu marido Adnan, 32, usavam os
pseudônimos de “Sweetie” e “Prince of Joy” em salas de bate-papo. Conheceram-se
e iniciaram uma relação, confidenciando-se mutuamente os problemas que tinham em
seu casamento. 1
Os dois estavam convencidos de ter finalmente
encontrado sua alma gêmea e resolveram marcar um encontro real para se conhecer,
e descobriram a verdade. A esposa disse que “de repente estava apaixonada,
parecia que eu e “Prince of Joy” [pseudônimo do esposo] estávamos amarrados no
mesmo tipo de casamento infeliz”. “Depois, me senti tão traída”, disse a esposa.
O marido, por sua vez, continua sem poder acreditar no que aconteceu. “É difícil
pensar que “Sweetie” [pseudônimo da esposa], que escreveu coisas tão
maravilhosas para mim [Prince of Joy] , é na verdade a mesma mulher com quem me
casei e que, por anos, não foi capaz de me dizer uma única palavra agradável”.
2
Sem dúvida estamos diante de insólita ocorrência inteiramente edificada
sobre as areias de um casamento arruinado, da escapatória do consórcio por meio
da recíproca infidelidade conjugal e da autocomiseração em face do mútuo
adultério. Diante do fato, tenta-se a busca do “divórcio” para “resolver” a
demanda de dois corações lesionados. Compreendemos que a traição dói de todas as
maneiras, seja ela virtual ou real.
Perante a deslealdade conjugal, grande
contingente pessoas exibem duas fases de reação: protesto e desespero. A pessoa
se contorce, grita, chora, implora por uma nova chance. Já na segunda fase, a
reação será muito parecida com a de pacientes em depressão: falta de vontade de
interagir socialmente, perda de apetite, insônia e desinteresse por qualquer
atividade. Obviamente não existe adultério onde reina sincera afeição
recíproca.
Não estamos aqui para lançar juízos sob o império conceitual de
falsa superioridade ante os que se encontram dilacerados nos sentimentos. Sobre
o adultério em si preferimos recorrer à sentença do Cristo que diz: “atire-lhe a
primeira pedra aquele que estiver isento de pecado.”. 3 Esta sentença faz da
indulgência um dever para nós outros, porque ninguém há que não necessite, para
si próprio, de indulgência. “Ela nos ensina que não devemos julgar com mais
severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem
aquilo de que nos absolvemos.
Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos
se a mesma censura não nos pode ser feita.”. 4
Sobre o ditado “atire a
primeira pedra”, é “curioso notar que Jesus, em se tratando de faltas e quedas,
nos domínios do espírito, haja escolhido aquela da mulher, em falhas do sexo,
para pronunciar a sua inolvidável sentença. Todavia, dos milenares e tristes
episódios afetivos que reverberam na consciência humana, resta, ainda, por
ferida sangrenta no organismo da coletividade, o adultério que, de futuro, será
classificado na patologia da doença da alma, extinguindo-se, por fim, com
remédio adequado.”. 5
Infelizmente, o “adultério ainda permanece na Terra,
por instrumento de prova e expiação, destinado naturalmente a desaparecer, na
equação dos direitos do homem e da mulher, que se harmonizarão pelo mesmo peso,
na balança do progresso e da vida. Quando cada criatura for respeitada em seu
foro íntimo, para que o amor se consagre por vínculo divino, muito mais de alma
para alma que de corpo para corpo, com a dignidade do trabalho e do
aperfeiçoamento pessoal luzindo na presença de cada uma, então o conceito de
adultério se fará distanciado do cotidiano, de vez que a compreensão apaziguará
o coração humano e a chamada desventura afetiva não terá razão de ser.”. 6
O
Espírito Emmanuel ilustra que “no rol das defecções, deserções, fraquezas e
delitos do mundo, os problemas afetivos se mostram de tal modo encravados no ser
humano que pessoa alguma da Terra haja escapado, no conjunto das existências
consecutivas, aos chamados “erros do amor”. 7
“Quem não haja varado transes
difíceis nas áreas do coração no período da reencarnação em que se encontre,
investigue as próprias inclinações e anseios no campo íntimo, e, em sã
consciência, verificará que não se acha ausente do emaranhado de conflitos, que
remanescem do acervo de lutas sexuais da Humanidade.”. 8
Achamo-nos muito
longe da pureza do coração, e por isso mesmo, se alguém nos parece cair sob
enganos do sentimento, não critiquemos; em vez disso, silenciemos e oremos a seu
benefício. Nenhum de nós consegue conhecer-se tão exatamente a ponto de saber
hoje qual a dimensão da experiência afetiva que nos espera no futuro. Somos
incapazes de examinar as consciências alheias, e cada um de nós, ante a
Sabedoria Divina, é um caso particular em matéria de amor, reclamando
compreensão.
Jorge Hessen
Referências
bibliográficas:
1 Disponível em
http://metro.co.uk/ acesso 12/08/2014
2 Disponível em
http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI1920421-EI4802,00.html acessado em
12/08/2014
3 João 8:7
4 Kardec, Allan. Evangelho
Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1977,item 13, do Cap.
X,
5 Xavier, Francisco Cândido. Sexo e Vida , ditado pelo
espirito Emmanuel, RJ: Ed FEB, 2001