O MITO DO COLESTEROL
Desde que me conheço por gente, muito antes de estudar medicina, sempre ouvi sobre os males do vilão colesterol. Quantas vezes, numa ceia de fim de ano, diante de um leitão a pururuca, vi alguém de minha família se privar desta iguaria. O que nós não sabíamos naquela época, e mesmo muito tempo depois de me formar médico, é que este álcool da classe dos esteróides originado de um carboidrato é essencial para inúmeras funções em nosso organismo.
Você sabia, por exemplo, que 50% das calorias absorvidas do leite materno, que é o melhor alimento que existe, são provenientes do colesterol? Ou que o infarto agudo do miocárdio era uma doença praticamente inexistente em 1910, apesar de nossos bisavós ingeriam uma quantidade de gordura animal proveniente da banha de porco, muito superior a quantidade por nós ingerida? E que o colesterol faz parte das membranas celulares de todas as 50 trilhões das células de nosso organismo? Ou que precisamos dele para sintetizar hormônios sexuais e corticóides? E que sem esse "vilão" não fabricamos a mielina do sistema nervoso, nem a vitamina D que é importantíssima para inúmeras funções do nosso organismo?
O colesterol, na forma reduzida, circula normalmente pelo nosso corpo, sem nos causar nenhum efeito deletério. Somente quando oxidado após sofrer alterações bioquímicas é que ele se deposita nas paredes de nossas artérias. Os responsáveis pela oxidação do colesterol são: a gordura hidrogenada, presente em alimentos processados feitos com óleos vegetais como soja, girassol, canola e milho, e os açucares e carboidratos de fácil absorção. Um óleo perfeito seria composto de omega 6 e omega 3 na proporção de 3 para 1. Na nossa alimentação atual, rica em alimentos industrializados, entupida de óleos vegetais hidrogenados, essa proporção chega a 30 para 1. Isso causa um desequilíbrio na membrana celular fazendo com que haja a liberação de citocinas que ocasionam uma inflamação. Esse processo inflamatório é que desencadeia a aterosclerose.
Igualmente, o excesso de açúcar, que o nosso organismo não consegue colocar para dentro da célula, também se adere as proteínas dos vasos, desencadeando uma reação inflamatória que culmina em, última análise, com as placas de ateroma. Portanto, hoje sabemos que a doença cardíaca isquêmica, é uma doença inflamatória que tem mais relação com a quantidade de gordura hidrogenada e carboidratos de fácil absorção ingeridos e não tanto com o nível de seu colesterol sérico.
Mas se o colesterol não é o maior problema, o que devemos comer? Para acalmar a inflamação deveríamos procurar alimentos mais próximos do natural. Escolher carboidratos complexos(com fibras), como frutas e vegetais coloridos; reduzir ou eliminar gorduras feitas com os óleos omega 6 e os alimentos feitos a partir deles; usar azeite de oliva ou óleo de coco, ou até mesmo uma boa manteiga de origem animal. O que deveríamos fazer era voltar para os alimentos integrais que nossas avós serviam. Até mesmo cometer o sacrilégio de cozinhar com banha de porco é mais indicado.
Abaixar muito o colesterol pode até encurtar sua vida. Alguns estudos correlacionam o colesterol muito baixo com uma incidência aumentada de depressão e tentativa de suicídio. As estatinas, drogas de escolha para o tratamento do colesterol, estão associadas a uma série de efeitos colaterais, tais como: nefrotoxicidade, cardiotoxicidade, fadiga crônica, rabdomiólise, diminuição da força de contração do coração, poliartalgia, fibromialgia e perda da massa muscular. Um estudo recente apontou, ainda, um aumento de 200% na incidência de câncer de mama em pacientes usuárias de estatinas.
Não quero dizer com isto, que nunca deveríamos usar estatinas. No entanto, deveríamos ser extremamente criteriosos para iniciar este tipo de medicação. Somente após, medidas de reeducação alimentar e mudanças de hábitos, deveríamos em alguns casos iniciar o tratamento medicamentoso. Mais do que o valor do colesterol total, deveríamos nos basear na relação entre colesterol total/HDL e triglicerideos/HDL como critério mais importante para iniciarmos a medicação. Em geral, quando a razão entre triglicerideos e HDL é inferior a dois, esses pacientes não se enquadram nos critérios de risco para doença isquêmica. Conheço inúmeros pacientes com colesterol total na faixa de 230 que são saudáveis por que tem HDL de 65 ou 70. Existem também os que tem colesterol total na faixa de 200, porém com HDL muito baixo e triglicerideos altos, o que lhes enquadra numa faixa de risco.
Por fim, o que estamos tratando? Um número alterado no exame de dosagem do colesterol? Qual benefício que essa conduta proporciona ao paciente? Estamos realmente evitando algumas mortes por infarto? Não deveríamos mudar radicalmente a nossa abordagem a essas doenças? O crescente número de óbitos por doença cardiovascular é a maior prova de que simplesmente controlar os níveis de colesterol medicamentosamente não é a melhor estratégia na luta contra essas enfermidades.
Dr. Ozanir Campos Couto CRM 89132
Ginecologista e Obstetra
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