Presente e constante na existência
humana, o fenômeno da morte constitui uma fatalidade da qual ninguém consegue
eximir-se.
Ocorrendo a cada momento nas células, que também se renovam,
ocasião chega em que a anóxia cerebral se encarrega de parar as funções do
tronco encefálico, interrompendo a ocorrência biológica da vida
física.
Todos os seres que nascem morrem, dando prosseguimento ao milagre
da vida em outra dimensão, aquela de onde tudo procede.
O objetivo
essencial da existência física, em consequência, é a construção e a vivências
dos valores éticos responsáveis pelo progresso incessante do Espírito até o
momento em que alcança a plenitude.
Mesmo nos reinos vegetal e animal, o
processo de nascimento e morte obedece à planificação do desenvolvimento
evolutivo da essência divina presente em tudo e em toda parte como fundamental
manifestação da vida.
Desde quando criado o ser, o deotropismo atrai-o
com força dinâmica inescapável...
Ao atingir a fase do instinto,
desenham-se-lhe no psiquismo, pelas experiências, os pródromos da razão, passo
gigantesco no rumo da angelitude.
Fixar os valores que dignificam e
elevam, que o libertam das heranças grosseiras da fase antropológica primitiva,
torna-se-lhe, portanto, imposição inevitável que o arrasta no rumo da ascese,
que se lhe constitui meta a ser conquistada.
Passo a passo, experiência
após vivência, a ânsia de alcançar a paz e a sabedoria estimula-o ao
prosseguimento, mesmo quando sob ações penosas do sofrimento, decorrente da
desatenção e da rebeldia ante as leis que regem o universo.
Parte
integrante do Cosmo, essa unidade minúscula que é o ser humano, à semelhança de
uma miocropartícula que forma a unidade atômica, deve manter a sua constância
sob o comando da consciência lúcida que reflete o estágio em que se
encontra.
As ocorrências desastrosas por falta de discernimento, por
teimosia dos instintos agressivos, retardam-lhe a marcha, sem dúvida, porém, não
impedem que ocorram novas oportunidades vigorosas em provações ou expiações
pungitivas que se encarregam de corrigir as anfractuosidades morais e os desvios
comportamentais, impondo a conduta correta como a solução adequada para o
equilíbrio e o bem-estar.
Viver é automático, porém, bem viver,
selecionando as questões que promovem os sentimentos e a inteligência em níveis
mais elevados, para a conquista da sabedoria, deve ser o objetivo de máxima
importância para todo viajante na indumentária carnal.
Sócrates,
totalmente lúcido e decidido a demonstrar a sua grandeza moral em fidelidade a
tudo quanto ensinou e viveu, recebeu a morte como um grande bem.
Instado
a fugir por Críton, que houvera organizado um plano audacioso com os seus demais
amigos, surpreendeu-se e o repreendeu, demonstrando que as leis, mesmo quando
injustas, devem ser obedecidas, de modo que a sociedade aprenda a estabelecer
códigos de nobreza.
Caso fugisse, evidenciaria que era realmente o que
dele diziam os inimigos, especialmente aqueles que o levaram ao tribunal com
infâmias grosseiras.
E sofismando a respeito da existência, qual fizeram
antes os juízes, anuiu com tranquilidade à sentença infame, demonstrando que a
existência física é uma experiência de iluminação e não uma pousada para o
prazer infinito.
Buda, de igual maneira, despedindo-se dos discípulos que
aguardavam mais informações, a fim de darem continuidade à divulgação dos seus
pensamentos, informou que lhes legava o dharma – a ordem universal imutável – e,
serenamente abandonado por muitos que antes o assistiam, silenciou a voz e
retornou à pátria da imortalidade.
Jesus é o exemplo máximo, porque no
auge dos sofrimentos pôde pronunciar frases que assinalariam com vigor a sua
despedida, desde o perdão aos crucificadores que não sabiam o que estavam
fazendo (Lucas, 23:34), até entregar a mãezinha aos cuidados do discípulo amado
e este ao seu carinho (João, 19:26-27), rompendo os laços da consanguinidade
terrestre em favor da fraternidade universal.
Foi mais além, dialogando
com o ladrão que lhe suplicava ajuda e socorrendo-o com a resposta da sublime
esperança da sua entrada no reino dos Céus (Lucas, 23:43), assim que se
desvencilhasse das asperezas dos erros, e se cumprisse tudo para quanto viera,
num inolvidável silêncio após o tudo consumado(João, 19:30).
Logo mais,
porém, retornava em júbilo na madrugada esplendente de sol e de beleza,
confirmando a imortalidade e o triunfo da vida sobre contingência material, de
modo que os amigos e quantos outros que o viram pudessem superar a injunção
corpórea e voar nos rumos do Infinito.
Francisco de Assis, sofrido pela
ingratidão de alguns dos melhores companheiros, ferido e maltratado, sem forças
nem resistências orgânicas, exauriu-se lentamente, cantando sempre até o último
hausto, a ponto de ser censurado por tanta alegria...
Todos aqueles que
descobriram a imortalidade enfrentaram o fenômeno da consumpção dos tecidos
orgânicos com estoicismo e naturalidade, alegrando-se com o término da tarefa
terrestre abraçada, de modo a retornarem vitoriosos ao grande Lar de onde
partiram no rumo do planeta terrestre.
Reflexiona diariamente a respeito
da tua partida em direção à imortalidade, preparando-te, a fim de que não te
fixes em interesses mesquinhos retentivos da retaguarda material. Treina o
pensamento em considerações constantes em torno da desencarnação, porquanto ela
chegará, talvez, quando menos a esperes.
Se tiveres a felicidade de
enfermar por longo prazo, diluindo os liames retentivos do corpo físico, isto
será uma bênção.
Mas se fores convocado repentinamente, deixa-te conduzir
com alegria, certo de que viverás.
Nada obstante, prepara-te
conscientemente para enfrentar esse fenômeno terminal, agradecido ao corpo que
te vem servindo de instrumento para a evolução, bem como a tudo quanto te ocorre
na atual conjuntura evolutiva.
|