EMMANUEL E RAMATIS
Embora Ramatis discorde de Roustaing na questão do corpo fluídico,
possua teoria própria em relação à queda angélica, defenda Jesus como um
espírito e o Cristo como outro, afirme, ao contrário de Emmanuel, que Jesus
tenha estado e aprendido com os essênios, e defenda uma mescla com as religiões
orientais, ao contrário da tese cristocêntrica apoiada pela FEB, anjo Ismael,
Roustaing e Emmanuel, este último, seguindo um posicionamento deveras
contraditório, comenta sobre o posicionamento de Ramatis em relação aos fim dos
tempos catastrófico e quejandos.
Leiamos o relato ramatisista:
“Logo que apareceram as primeiras publicações da
“Conexão de Profecias” (hoje com o título Mensagens do Astral), de Ramatis,
fomos a Pedro Leopoldo, a fim de ouvir a palavra autorizada de Emmanuel, através
daquele aparelho maravilhoso que é Francisco Cândido Xavier. Isto, porque o que
era dito pelo espirito de Ramatis, parecia-nos perfeitamente lógico. Mas, como
constituía novidade, não queríamos aceitar de pronto algo que não passasse pelo
crivo de várias manifestações mediúnicas, através de diversos aparelhos.Desta
forma, munidos do aparelho de gravação em fita, fomos atendidos
gentilmente pelo médium, que respondeu às perguntas que fazíamos, repetindo as
palavras da resposta, que eram ditadas por Emmanuel. A gravação foi feita no dia
5 de janeiro de 1954. Conservamos até hoje o rolo gravado em nosso poder.
Passamos a estampar as perguntas e respectivas respostas:
Pergunta:
– “Que pode o irmão dizer-nos a respeito do astro que se avizinha, segundo a
predição de Ramatis?”
Chico
Xavier: – “Afirma nosso Orientador espiritual que não podemos esquecer
que a Terra, em sua constituição física, propriamente considerada, possui os
seus grandes períodos de atividade e de repouso. Cada período de atividade e
cada período de repouso da matéria planetária, que hoje representa o alicerce de
nossa morada temporária, pode ser calculado, cada um, em duzentos e sessenta mil
(260.000) anos. Atravessando o período de repouso da matéria terrestre, a vida
se reorganiza, enxameando de novo, nos vários departamentos do Planeta,
representando, assim, novos caminhos para a evolução das almas.Assim sendo, os grandes instrutores da Humanidade,
nos planos superiores, consideram que, desses 260.000 anos de atividade, 60 a 64
mil anos são empregados na reorganização dos pródomos da vida organizada. Logo
em seguida, surge o desenvolvimento das grandes raças que, como grandes quadros,
enfeixam assuntos e serviços, que dizem respeito à evolução do espírito
domiciliado na Terra. Assim, depois desses 60 a 64 mil anos de reorganização de
nossa Casa Planetária, temos sempre grandes transformações, de 28 em 28 mil
anos. Depois do período dos 64 mil anos, tivemos duas raças na Terra, cujos
traços se perderam, por causa de seu primitivismo. Logo em seguida, podemos
considerar a grande raça Lemuriana, como portadora de urna inteligência algo
mais avançada, detentora de valores mais altos, nos domínios do espírito. Após a
raça Lemuriana – em seguida aos 28.000 anos de trabalho lemuriano propriamente
considerado – chegamos ao grande período da raça Atlântida, era outros 28.000
anos de grandes trabalhos, no qual a inteligência do mundo se elevou de maneira
considerável.
Achamo-nos, agora, nos últimos períodos da grande raça
Ariana. Podemos considerar essas raças, como grandes ciclos de serviços, em que
somos chamados de mil modos diferentes, em cada ano de nossa permanência na
crosta do planeta, ou fora dela, ao aperfeiçoamento espiritual, que é o objetivo
de nossas lutas, de nossos problemas, de nossas grandes questões, na esfera de
relações, uns para com os outros. Assim considerando, será mais significativo e
mais acertado, para nós, venhamos a estudar a transformação atual da Terra sob
um ponto de vida moral, para que o serviço espiritual, confiado às nossas mãos e
aos nossos esforços, não se perca em considerações, que podem sofrer grandes
alterações, grandes desvios; porque o serviço interpretativo da filosofia e da
ciência está invariavelmente subordinado ao Pensamento Divino, cuja grandeza não
podemos perscrutar.(Neste
ponto, ele sutilmente discorda de Ramatis.)
Cabe-nos,
então, sentir, e, mais ainda, reconhecer, que os fenômenos da vida moderna e as
modificações que nosso “habitat” terreal vem apresentando nos indicam a
vizinhança de atividades renovadoras, de considerável extensão. Daí esse afluxo
de revelações da vida extra-terrestre, incluindo sobre as cogitações dos homens;
esses apelos reiterados, do mundo dos espíritos; essa manifestação ostensiva,
daqueles que, supostamente mortos na Terra, são vivos na eternidade,
companheiros dos homens em outras faixas vibratórias do campo em que a
humanidade evolui. Toda essa eclosão de notícias, de mensagens, de avisos da
vida espiritual, devem significar para o homem, domiciliado na Terra do presente
século, a urgência do aproveitamento das lições de JESUS. Elas devera ser
apreciadas em si mesmas, e examinadas igualmente no exemplo e no ensinamento de
todos aqueles que, em variados setores culturais, políticos e filosóficos do
globo – lhe traduzem a vontade divina, que na essência é sempre a nossa jornada
para o Supremo Bem.
Elogios rasgados e críticas veladas…
“Os termos da comunicação obtida em Curitiba (a
“Conexão de Profecias”, de Ramatis) são de admirável conteúdo para a nossa
inteligência, de vez que, realmente, todos os fatos alusivos à evolução da
Terra, e referentes a todos os eventos, que se relacionam com a nossa
peregrinação para a vida mais alta, estão naturalmente planificados, por aqueles
ministros de Nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, de acordo com Ele, estabelecem
programas de ação para a coletividade planetária, de modo a facilitar-lhe os
vôos para a divina ascensão. Embora, porém, esta mensagem, por isso mesmo, seja
digna de nosso melhor apreço, contudo, na experiência de companheiro mais velho,
recomenda-nos nosso Orientador Espiritual (Emmanuel) um interesse mais efetivo,
para a fixação de valores morais em nossa personalidade terrena, de conformidade
com os padrões estabelecidos no Evangelho de nosso Divino Mestre. Porque, para
nossa inteligência, os fenômenos renovadores da existência que nos cercam têm
qualquer coisa de sensacional, de surpreendente, nosso coração de inclinar-se,
humilde, diante da Majestade do Senhor, que nos concede tantas oportunidades de
trabalho, em nós mesmos, a revelação dos grandes acontecimentos porvindouros;
novo soerguimento íntimo, novo modo de ser, a fim de que estejamos realmente
habilitados a enfrentar valorosamente as lutas que se avizinham de nós, e
preparados para desfrutar a Nova Era que, qual bonança depois da tempestade,
facilitará nossos círculos evolutivos. Será, todavia, muito importante
encarecer, que não devemos reclamar, do terceiro milênio, uma transformação
absolutamente radical, nos processos que caracterizam, por enquanto, a nossa
vida terrestre. O prazo de 47 anos é diminuto, para sanar os desequilíbrios
morais, de tantos séculos, em que o nosso campo coletivo e individual adquiriu
tantos débitos, diante da sabedoria e diante do amor, que incessantemente apelam
para nossa alma, no sentido de nos levantarmos, para uma clima mais aprimorado
da existência.”
Vimos, logo acima, uma flagrante
discordância.
Chico Xavier/Emmanuel prosseguem:
“Não podemos esquecer, que grandes imensidades
territoriais, na América, na África e na Ásia, nos desafiam a capacidade de
trabalho. Não podemos olvidar, também, que a Europa, superalfabetizada, se
encontra num Karma de débitos clamorosos, à frente da Lei, em doloroso
expectação, para o reajuste moral, que Ihe é necessário.Aqui mesmo, no Brasil, numa nação com capacidade
de asilar novecentos (900) milhões de habitantes, em quatrocentos e alguns anos
de evolução, mal estamos -os espíritos, encarnados na Terra em que temos a
bênção de aprender ou recapitular a lição do Evangelho – mal estamos passando
das faixas litorâneas. Serviços imensos esperam por nossas almas no futuro
próximo. E, se é verdade que devemos aguardar, em nome de Nosso Senhor Jesus
Cristo, condições mais favoráveis para a estabilização da saúde humana, para o
acesso mais fácil às fontes da ciência; se nos compete a obrigação de esperar o
melhor para o dia de amanhã cabe-nos, igualmente, o dever de não olvidar que,
junto desses direitos, responsabilidades constringentes contam conosco, para que
o Mundo possa, efetivamente, atender ao programa Divino, através, não somente da
superestrutura do pensamento científico – que é hoje um teto brilhante para os
serviços de inteligência do mundo – mas também, através de nossos corações,
chamados a plasmar uma vida, que seja realmente digna de ser vivida por aqueles
que nos sucederão nos tempos duros; entre os quais, naturalmente, milhões de nós
os reencarnados de agora, formaremos, de novo, como trabalhadores que voltam
para o prosseguimento da tarefa de auto acrisolamento, para a ascensão sublime,
que o Senhor nos reserva.
Mais discordâncias, porém com
elogios…
Pergunta:
– “Foi, de fato, há 37.000 anos que submergiu a Atlântida?”(Ramatis
afirma isso)
Chico
Xavier: – “Diz nosso Amigo (Emmanuel) que o cálculo é, aproximadamente,
certo, considerando-se que as últimas ilhas, que guardavam os remanescentes da
civilização atlântida, submergiram, mais ou menos, 9 a 10 mil anos, antes da
Grécia de Sócrates.”
Pergunta:
– Poderíamos ter alguns informes a respeito de Antúlio? (Para
Ramatis, Antúlio foi uma das encarnações de Jesus)
Chico
Xavier: – “Vejo, aqui, nosso diretor espiritual, Emmanuel, que nos diz
que um estudo acerca da personalidade de Antúlio exigiria minudências
relacionadas com a história, no espaço e no tempo, que, de imediato, não podemos
realizar. De modo que, tão somente, pode afiançar-nos que se trata de uma
entidade de elevada hierarquia, no plano espiritual; vamos dizer, um assessor,
ou um daqueles assessores, que servem nos trabalhos de execução do plano divino,
confiado ao Nosso Senhor Jesus Cristo, para a realização do progresso da Terra,
em geral. Esclarece nosso amigo que Jesus Cristo, como governador de nosso
mundo, no sistema solar, conta, naturalmente, com grandes instrutores, para a
evolução física e para a evolução espiritual, na organização planetária. E,
subordinados a esses ministros, para o progresso da matéria e do espirito, no
plano que nós habitamos presentemente, conta Ele com uma assembléia de múltiplos
instrutores, de variadas condições, que lhe obedecem as ordens e instruções,
numa esfera, cuja elevação, de momento, escapa à nossa possibilidade de
apreciação. Antúlio forma no quadro destes elevados servidores.” (Visão
cristocêntrica de Emmanuel x visão descentralizada de
Ramatis)
Quem
consegue entender?
Pergunta:
– “Acha nosso irmão que a Mensagem de Ramatis deva ser divulgada com
amplitude?”
Chico
Xavier: – “Diz nosso Orientador que a Mensagem é de elevado teor… E todo
trabalho organizado com o respeito, com o carinho e com a dignidade, dentro dos
quais essa Mensagem se apresenta, merece a nossa mais ampla consideração, de vez
que todos nós, em todos os setores, somos estudiosos, que devemos permutar as
nossas experiências e as nossas conclusões para a assimilação do progresso, com
mais facilidade em favor de nós mesmos.”
Dentro dessa salada doutrinária de Emmanuel, temos
elogios e considerações favoráveis a todos. Teses e idéias das mais antagônicas
são apoiadas por Emmanuel, desde o orientalismo catastrofista de Ramatis até o
religiosismo católico impregnado em Roustaing.
E a pergunta é: De que lado está/esteve
Emmanuel?
ADENDOS
Conforme prometido, vamos analisar o que o
Kardec-espírito da FEB teria ditado em sua mensagem através do médium rustenista
Frederico Júnior e espertamente publicada no livreto “A Prece”, como para
referendar a “missão” do anjo Ismael, a da FEB como “casa-máter”, a do Brasil
como “coração do mundo, pátria do Evangelho” e do roustainguismo.
“Sendo assim, a esse pedaço de terra, a que chamais
Brasil, foi dada também a Revelação da Revelação…”, pág. 13
Nosso
comentário: Revelação da Revelação é sub-título de “os Quatro
Evangelhos”.
“Ismael, o vosso guia, tomando a responsabilidade de
vos conduzir ao grande templo do amor e da fraternidade humana, levantou a sua
bandeira, tendo inscrito nela – Deus, Cristo e Caridade. Forte pela dedicação,
animado pela misericórdia de Deus. que nunca falta aos trabalhadores, sua voz
santa e evangélica ecoou em todos os corações, procurando atraí-los para um
único agrupamento onde, unidos…, onde enlaçados num único sentimento – o do amor
– pudessem adorar o Pai em Espírito e Verdade…”
Nosso
comentário: A expressão “em espírito e verdade” é exaustivamente repetida
nos livros de Roustaing, e na mensagem a puseram na boca de
Kardec…
Mais
referências do Kardec-espírito da FEB enaltecendo o anjo
Ismael:
“…todos os espíritas tinham o dever sagrado de vir
aqui se agruparem – ouvir a palavra sagrada do bom Guia Ismael – único que
dirige a propaganda da Doutrina nesta parte do planeta e único que tem a
responsabilidade de sua marcha e desenvolvimento.” (págs. 14/15)
O pseudo-Kardec da FEB renuncia á sua condição de
Codificador do Espiritismo ao declarar que a Doutrina Espírita está contida nos
“Os Quatro Evangelhos” de Roustaing – A Revelação da Revelação:
“…tudo converge para a Doutrina Espírita – Revelação
da Revelação”. (pág. 16)
O “templo” de Ismael é exaltado:
“Disciplinai-vos pelos bons costumes no Templo de
Ismael…” (pág. 19)
Como se vê, num centro doutrinariamente
roustainguista, a mensagem atribuída a Kardec não poderia ser de outra forma. Os
espíritos, adeptos do Docetismo (que pregava o corpo aparente de Jesus),
ressuscitado por Roustaing, a cuja falange pertence Ismael, forjaram um Kardec
para atestar a suposta missão do “anjo” Ismael e a importância da “Revelação da
Revelação”. Um Kardec irreconhecível, que sai em defesa desesperada de Ismael e
diz:
“Assim, quando os inimigos da Luz – quando o espírito
da trevas julgava esfacelada a bandeira de Ismael, símbolo da Trindade Divina…”
(pág. 14)
Vemos dois erros graves: a expressão “espírito das
trevas”, que Kardec jamais usou, por ser errada e inadequada (ver pergunta 361-A
de O LE), e a defesa da trindade divina, inaceitável para o
Espiritismo.
O Kardec da FEB é místico
Vejam só:
“Se fora possível, a todos os que estremecem diante
desses quadros horrorosos, praticar o jejum de que falava Jesus aos seus
apóstolos; se fora possível a cada um compreender o papel do verdadeiro
sacerdote, de que se acha incumbido, quando procura repartir a hóstia sagrada,
no altar de Jesus, com seus irmãos na Terra.” (p.250)
O pseudo-Kardec da FEB enaltece a caridade sem
discernimento:
“A caridade que exclui a razão, a prudência e o
bom-senso – a verdadeira caridade – é instintiva!” (p.29)
E se contradiz mais adiante:
“Assim pois, o bem deve ser feito indistintamente,
seja qual for o terreno em que houvermos de praticar. Mas, nem o próprio bem
pode excluir a nossa razão, quando, tratando-se da justiça de Deus, pretendemos
contrariá-la.” (p.36)
Mais
alguns detalhes
Emmanuel:
“O Consolador”, perg. 243, 277, 283 e 287, afirma, em defesa da evolução de
Jesus em linha reta, isto é, sem reencarnar, exatamente como encontramos em
Roustaing:
“Todas as entidades espirituais encarnadas no orbe
terrestre são Espíritos que resgatam ou aprendem nas experiências humanas, após
as quedas do passado, com exceção de Jesus-Cristo, fundamento de toda a verdade
neste mundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus, e em cujas mãos
angélicas repousa o governo espiritual do planeta, desde os seus
primórdios.”
“O Eleito, porém, é aquele que se elevou para Deus em
linha reta, sem as quedas que nos são comuns, sendo justo afirmar que o orbe
terrestre só viu um eleito, que é Jesus-Cristo.”
“Antes de tudo, precisamos compreender que Jesus não
foi um filósofo e nem poderá ser classificado entre os valores propriamente
humanos, tendo-se em conta os valores divinos de sua hierarquia espiritual, na
direção das coletividades terrícolas.”
“A dor material é um fenômeno como o dos fogos de
artifício, em facedos legítimos valores espirituais.”
“Homens do mundo, que morreram por uma idéia, muitas
vezes não chegaram a experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da
incompreensão do seu ideal.”
“Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela
Humanidade inteira, e chegareis a contemplá-Lo na imensidão da sua dor
espiritual, augusta e indelével para a nossa apreciação restrita e
singela.”
“De modo algum poderíamos fazer um estudo psicológico
de Jesus,estabelecendo dados comparativos entre o Senhor e o homem.”
“Examinados esses fatores, a dor material teria
significação especial para que a obra cristã ficasse consagrada? A dor
espiritual, grande demais para ser compreendida, não constitui o ponto essencial
da sua perfeita renúncia pelos homens?”
Chico Xavier fala de Roustaing
“Aguardo, com justificado interesse, o teu trabalho
sobre Kardec-Roustaing. Deve ter sido um esforço exaustivo, mas muito lindo, o
de procurar notícias das relações de ambos, nas publicações do “Espiritismo
jovem”. Creio que esse trabalho, do qual te ocupas agora, é de profunda
significação para o nosso movimento. Esperarei o “Reformador”, de outubro
próximo, ansiosamente.” (Carta de Chico Xavier ao então presidente da FEB,
Wantuil de Freitas, a 15 de setembro de 1946, a propósito de um estudo de
autoria de Wantuil, publicado na edição de outubro do mesmo ano em “O
Reformador”)
“Sinto inveja da leitura que vens fazendo com o Ismael
da “Revue Spirite”. Deve ser um encanto entrar em contato com essas coleções
antigas. Creio que estás fazendo esse trabalho com a inspiração de nossos
Maiores. Creio, não – tenho a certeza disso. Que possamos recolher muitos frutos
dessa tarefa abençoada é o meu desejo muito sincero. Aguardo tuas notícias novas
sobre a revisão do “Roustaing”. Não te excedas nesse serviço. Das 7 às 23 horas
é demais. Resguarda teus órgãos visuais. Lembra-te de que a tua família
espiritual hoje é enorme. ” (Idem, com data de 25 de setembro de 1946, ainda
sobre o mesmo assunto)
Chico comenta, ainda uma vez, em correspondência com
data de 29 do mesmo mês, a nova edição da obra de Roustaing:”
(…) Aguardo com muito interesse a nova edição do
“Roustaing”. Constituirá um grande serviço à Causa da Verdade e do Bem, nos
moldes de que me tens dado notícias.
Sobre o trecho de Roustaing em “Brasil, Coração do
Mundo, Pátria do Evangelho”:
“Não te incomodes com a declaração havida de que o
trecho alusivo a Roustaing, em “Brasil”, foi colocado pela Federação. Quando
descobrirem que a Casa de Ismael seria incapaz disso, dirão que fui eu. De
qualquer modo, eles falarão. O adversário tem sempre um bom trabalho – o de
estimular e melhorar tudo, quando estamos voltados para o bem. “(Carta de Chico
para Wantuil, de 25 de março de 1947)
O presidente da FEB dá-lhe algumas informações sobre o
caso, também por correspondência. Chico agradece, em nova missiva, esta última
de 15 de abril do mesmo ano:
“Agradeço as notícias que me deste, relativamente ao
caso da acusação havida quanto ao livro “Brasil”. Deus te proteja em teu
ministério de supervisão espiritual.”
Meses mais tarde, ambos retornam ao assunto, dessa vez
falando sobre uma nova edição desta obra. Wantuil enviara a Chico um exemplar
com pequenos ajustes de redação, mas estava especialmente preocupado com a
polêmica surgida sobre o trecho referente a Roustaing, e avaliava a
possibilidade de adiar-se um pouco a nova tiragem, ou mesmo de submeter o trecho
à revisão do autor espiritual. Chico discorda, e apresenta sua ponderação, em
correspondência de 24 de agosto de 1947:
“Nosso gesto poderia traduzir, para muitos, temor ou
excessiva consideração para com o bloco que nos acusa de interpolar os textos
mediúnicos, porque não tendo havido uma providência desta, em qualquer edição
dos livros recebidos em Pedro Leopoldo, desde a publicação do “Parnaso”, há
quinze anos, a mudança seria extremamente chocante.”…
Mas deixa a decisão final para o então presidente da
“Casa de Ismael”, assinalando:
“De uma coisa poderemos estar certos – é de que nunca
estaremos livres da perseguição e da leviandade dos nossos adversários
gratuitos. Mais vale recebê-los com paternal vigilância que dispensar-lhes
excessiva consideração.(…)”
Santa ingenuidade…
Sobre a revisão geral do texto, de natureza
linguística, Chico agradece a dedicação de Wantuil em nova carta, enviada apenas
seis dias depois:
“Restituí-te o livro ontem com todas as corrigendas
que fizeste e podes crer que esses reajustamentos e todos os outros que puderes
fazer, no “Brasil, Coração do Mundo”e em todos os outros livros, representam
motivo de imenso prazer e de indefinível conforto para mim. Deus te
recompense.”
Em outubro de 1947, Wantuil publica em “O Reformador”
um artigo sobre a questão do corpo fluídico de Jesus, um dos pontos mais
importantes da obra “Os Quatro Evangelhos”. Chico elogia o trabalho feito em
missiva de 13 de novembro…
“Considero muito valiosa a página “Corpo Fluídico?”,
do Reformador de outubro próximo passado. É de autoria de quem? Trata-se de um
trabalho condensado de grande expressão educativa.”… e ainda reforça o elogio em
outra, de 22 do mesmo mês:
“Minhas felicitações pela encantadora e substanciosa
página “Corpo Fluídico?”. Creio que deves continuar a produzir trabalhos
semelhantes para a nossa edificação geral.”
1951, 15 de março. Os filhos de Wantuil seguem para a
Europa. Vão a Bordéus (cidade de Roustaing) e Paris, em missão de pesquisa.
Chico alegra-se com a notícia:
“Estou muito contente com a partida dos teus rapazes
para a Europa. Será um grande serviço à nossa Causa a visita a Bordéus e Paris.
Observador quanto é, Zêus pode trazer muito material informativo edificante para
nós no Brasil, mormente no que se refere à obra de Roustaing. Também lastimo que
o tempo dos dois estimados viajantes seja tão curto lá.”
1952, 23 de outubro: “Minhas felicitações pelo teu
belo trabalho com a obra de Roustaing. Está realizando um serviço de grande
importância para o nosso ideal.”
Em março de 53, Chico demonstra curiosidade sobre as
vendas das obras de Kardec, Roustaing e dos grandes pioneiros de nossa doutrina
– Léon Denis, Flammarion e Dellane – ressaltando seu valor
doutrinário:
“Tendo em alta conta e profunda estima a obra de
Kardec e de Roustaing e dos grandes pioneiros que foram Léon Denis, Flammarion e
Delanne, ficaria muito contente e agradecido se me desses a conhecera
estatística sobre a penetração dos livros que nos legaram, em nossa Pátria, caso
tenhas essa estatística com facilidade. Considero essa penetração muito
importante para o traalho de nossa Consoladora Doutrina, no Brasil.”Wantui
envia-lhe os dados requeridos. Chico agradece, a 27 de junho do mesmo ano:”Grato
pelas notícias dos grandes pioneiros Roustaing, Denis, Flammarion e Dellane. Se
a “Revue Spirite” algo publicar, esperarei tuas notícias.”
Mensagem de Ismael sobre a Concepção da “Virgem” e a
Natureza do Corpo de Jesus
Abaixo uma mensagem de Ismael sobre o corpo de Jesus,
recebida por Frederico Pereira da Silva Junior:
“Meus filhos, bem pouco me cabe dizer sobre o vosso
estudo de hoje. Soubestes guardar convosco a paz que os vossos guias vos
trouxeram e, recebendo facilmente as suas inspirações, pudestes, com o vosso
próprio espírito, tocar a verdade. É assim que firmastes opinião definitiva
sobre a concepção da sempre Virgem e sobre o corpo aparentemente carnal de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Se a opinião isolada do vosso bom Mestre Allan Kardec pôde,
de alguma sorte, influir no entendimento de alguns, fazendo-lhes crer que o
Redentor do mundo viera revestir-se da matéria grosseira dos corpos comuns, para
dar o exemplo das maiores virtudes, encaminhando a humanidade inteira para a
terra da promissão, hoje, que todos os Espíritos bem iluminados afirmam que o
nascimento de Jesus foi todo aparente, que o seu corpo apenas se constituíra de
fluidos concentrados no seio da sempre Virgem Maria, não há razão de ser para
duas opiniões a tal respeito. Maria foi sempre mãe de Jesus, como todas as mães
são mães dos homens. Se o que se gera no ventre da mulher não é o Espírito, mas
sim a massa que vai vestir o mesmo Espírito, incontestavelmente Maria foi mãe de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
E, assim, bem o vêdes, realizaram-se todas as
profecias; e, assim, veio ao mundo Aquele a quem devemos a Seara da abundância,
os frutos da verdade. Insistamos: a opinião do homem, falível quase sempre, pôde
como que inocular, no espírito de seus irmãos, a idéia de que Jesus, se não
revestisse um corpo carnal, igual ao de todas as criaturas humanas, seus
sofrimentos seriam nulos. Entretanto, como bem disseram entre vós, qual o maior
sofrimento, o físico ou o sofrimento moral? Mas, mesmo com esse corpo de
natureza celeste, com essa reunião de moléculas fluídicas, que ainda
desconheceis, não seria possível o próprio sofrimento físico do Redentor? Quem
sofre, é o Espírito ou a carne? Não é a lesão, o golpe sobre a matéria que, por
intermédio do perispírito, faz chegar ao Espírito as sensações e a dor? Vêdes,
portanto, que não pode prevalecer de modo algum a opinião isolada do vosso bom
Mestre Allan Kardec. Meus filhos, continuemos a estudar os Evangelhos do Senhor
em todos os seus mais pequeninos detalhes. Procurai conhecer o espírito de toda
a letra, com humildade, porque a verdade há de fazer-se aos vossos olhos, como
um testemunho do agrado do Senhor, que vos vê esquecidos das paixões do mundo,
concentrados, estudando a vida do seu amado Filho. O único requisito que se vos
pede é a humildade.” Ismael