Espanha, 1867, eu era um viajante, que vendia de tudo em minha
carroça de bugigangas, era como falavam. Lembro-me do dia em que a vi, Bethânia, bela moça, de longos cabelos negros, e espetacular
dançarina.
Enfeitiçado, procurei saber tudo sobre aquela linda moça. Então
esperei um dia na calada da noite, quando ela saia para a capela local. E como
um caçador, esperei a hora mais propicia, e foi quando a chamei pelo nome,
nossos olhares se cruzaram, e sabia naquele momento, que era ela a minha
escolhida.
Conversamos durante horas a fio, então passamos a nos encontrar
todos os dias naquele mesmo horário e local. Depois de um mês perguntei à ela,
se poderia ir a sua casa, para conhecer sua família e fazer o pedido para
cortejá-la. Mas ela calou-se, e me olhou com lágrimas nos olhos, dizendo-me, que
já estava noiva, a algum tempo, de um rapaz, filho de família muito próxima à
sua.
Saindo, aos prantos, ela despediu-se com um Adeus, como se isso
pudesse apagar o nosso amor. Embora o ocorrido, eu nunca desistiria dela. Foi
quando a procurei, e a propus que fugíssemos em
breve.
No dia combinado, o seu noivo nos viu, e em fúria sem dizer ao
menos uma palavra, ergueu a mão esquerda em minha direção, me desferindo uma
tapa no rosto. Naquele momento fiquei cego, pelo ódio, e o desafiei para um
duelo de adagas, no dia seguinte.
No local marcado, estávamos lá com os respectivos espectadores e
compradores do vencedor. Começamos então, cada um com a sua afiada arma,
primeiramente ele desferiu um golpe que serrou o meu braço, logo em seguida
reagi com outro golpe de raspão no seu peito, a luta continuara, quando
descerrei um golpe no seu estomago, e olhando nos seus olhos, achei eu, que já
era o vencedor, mas senti uma punhalada nas costas, e foi ali naquele momento,
olhando um para o outro, que caímos desfalecidos, em uma morte
conjunta.
Quando acordamos, algum tempo depois, em um lugar muito obscuro,
continuamos o nosso duelo eterno, e por mais que eu o apunhalasse e ele
revidasse, sentíamos as dores infernais e infinitas, mesmo assim continuávamos
vivos, pelo menos era o que achávamos, perdurando isto por 50
anos.
Em buscas rotineiras, no plano inferior, anjos de luz, procuravam
almas para serem recolhidas para o plano maior. E encontraram um corpo com duas
cabeças, que se tratava de mim e meu desafeto, pois o ódio nos uniu ali,
entrelaçando nossas vísceras.
Levados ao plano superior, não conseguimos ser separados, então
os amigos de luz, chegaram a conclusão que teríamos de voltar unidos, para o
mundo material.
Renascemos então, em uma humilde vila do interior da França, mas
algo estava errado, pois nascemos compartilhando de alguns órgãos em comum, como
pulmões e estômago, éramos considerados uma aberração, ou seja, seríamos o que
vocês chamam hoje de irmãos siameses.
Mas apesar de aparência mórbida, crescemos e o carinho de nossos
pais conseguiu superar todos os problemas, e unidos daquela forma, fazíamos tudo
juntos, brigávamos muito, é verdade, mas o amor fraternal falou mais alto, e nos
tornamos literalmente “unha e carne” um do
outro.
Naquela época a medicina, era muito precária e vivemos até os
nossos 12 anos de idade, deixando nossos pais, muito tristes e
saudosos.
Acordando no outro plano, notei algo diferente, sentia que
faltava algo e percebi que não estava mais atrelado ao meu irmão, começando a
gritar por ele. Foi quando uma bela moça disse-me que havíamos passado por uma
cirurgia para sermos separados, e que meu irmão ainda dormia em outra
sala.
Quando o encontrei, o abracei tanto, como nunca tive chance.
Depois descobrimos o nosso passado, e pensamos, como poderíamos, nós, ter matado
um ao outro.
Deus é realmente maravilhoso, usou do nosso ódio, para nos unir,
transmutando-o em amor fraterno, que apaga qualquer mágoa, e ainda mesmo agora
separados de corpos, o sentirei eternamente perto de mim, e como diz um sábio
ditado popular:
“O QUE DEUS UNIU O HOMEM NUNCA
SEPARA”.
DAMIÃO.
Mensagem de um espírito que se identificou como DAMIÃO,
psicografada pelo médium Aleandro Ferreira, em reunião realizada no dia 15 de
setembro de 2014, na casa espírita, Casa da Esperança, em Goialândia-
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