Deixa por um momento a confusão mental que te acompanha
e viaja nos acordes de uma música suave, um piano que hipnotiza, uma flauta que
enternece, um violino cigano.
Verás que teu coração desacelera, tua mente procura
resgatar algo indefinido, teus sentimentos adormecidos afloram como à procura de
reviver momentos inesquecíveis, capturar a luz, prender entre os dedos a
sensação mágica de liberdade que o Espírito sente.
Nesse êxtase, tuas lembranças convergem para onde teus
sentidos as levam, guiadas por um perfume, um sorriso, uma lágrima, um beijo, um
adeus.
Na tela da tua mente ressurgem cenários mágicos nos
quais fostes realmente tu mesmo, sem máscaras, sem escudos, sem
cálculos.
Descobre-te surpreso com a flor que trazes à mão, com a
volta do sorriso que deixastes no passado, com a gentileza que desprendestes ao
longo do tempo, com o brilho dos teus olhos, tão parecido com o de uma
criança.
Recordas que teus passos eram leves, que não tinha
tremores nas mãos, que percebias o perfume das manhãs, o aroma das tardes e as
estrelas das noites.
Pode ser que de maneira inconsciente viajes por campos
perfumados, enamorado pela vida, levado pela magia do que foste e do que
gostarias de ter sido.
Pode ser que chores, cantes, recites versos daquele
velho poema que jamais esquecestes.
Quem sabe tomes a mão de alguém imaginário, um ser que
represente o teu ideal de amor e com ele dances a canção que te marcou sem te
ferir.
Não seria exagero dizer que darias toda tua riqueza para
eternizar tais momentos raros nos quais a felicidade está ali, mas acena com
aquele ar de “até um dia”.
Na tua viagem compreendes que o mundo é bom, sentes a
presença vigorosa de Deus, entendes, enfim a tua
destinação.
Descobres o que Jesus disse ao anunciar que o reino de
Deus está dentro de cada um, pois em tua viagem não saístes do lugar em que
estavas. Apenas tivestes paciência e sabedoria para visitar o salão onde guardas
teus maiores tesouros: teu coração.
Convidar-te-á o anjo que te levou, a repetir sempre a
mesma experiência, pois tudo estará ali a tua espera no reino onde és
senhor.
Somente quando a música cessar é que terás a sensação de
que perdestes algo precioso. Sentirás saudade de ti mesmo, de como eras, de algo
que há pouco te fazia meio homem, meio anjo.
Mesmo com esforço não conseguirás descrever o que
sentistes, pois as palavras, ternura, afago, acolhimento, felicidade, são pobres
diante da grandiosidade do que vivestes.
Se fores sábio construirás um barco a vela e tomarás a
poesia como bússola para retornares ao reino de Deus que está em
ti.
Se fores ingênuo, esperarás que o acaso reúna novamente
aquele piano que hipnotiza, aquela flauta que enternece e aquele violino cigano,
o que será difícil, pois eles procuram sempre aqueles que se ajudam a se
conhecerem melhor e não àqueles que esperam que o acaso os
descubram.
Luiz Gonzaga Pinheiro
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