"Quando o médico Michael Anderson fica sabendo que seus pacientes de
baixa renda estão
enfrentando dificuldades na escola primária, geralmente lhes
receita um medicamento forte:
Adderall.(Adderal é o
nome fantasia para uma droga psicoestimulante pertencente
à classe das
anfetaminas, utilizado para o tratamento do TDAH - transtorno de
déficit de
atenção e hiperatividade, comercializada somente nos Estados Unidos.
Age
aumentando a dopamina e a noradrenalina cerebrais. A droga produz efeitos
colaterais extremamente sérios, como atrofia do desenvolvimento e pode levar a
episódios de crises psicóticas. Um dado importante: ela age sobre estruturas do
cérebro que recebem o nome de "sistema de recompensa", o mesmo sistema q
ue é
ativado por drogas como a cocaína. Ou seja: ela possui um grande potencial
de
dependência e deve ser encarada como droga de abuso. Em 2005, o governo
do
Canadá suspendeu a venda de Adderal por estar associada a 12 mortes súbitas
em
jovens, mas a suspensão foi revogada tempos depois. O uso crônico pode levar
a
quadros recorrentes de psicoses. Mas voltemos à matéria,
lembrando que o médico
Michel Anderson prescreve essa droga para pacientes
pobres que mostram
dificuldades escolares).
Os
comprimidos aumentam a atenção e o controle de impulsos de crianças que
apresentam
transtorno de déficit de atenção com hiperatividade. Embora o TDAH
seja o que Anderson
diagnostica, ele descreve o transtorno como
"inventado", dizendo que não passa
de uma desculpa para receitar pílulas
para tratar o que ele vê como sendo o
verdadeiro mal das crianças: desempenho
acadêmico fraco em escolas inadequadas
. (Michel Anderson,
médico, acredita - como tantas outras pessoas - que o
TDAH não existe como
transtorno psicopatológico, que ele foi inventado para
dopar crianças que estão
indo mal nas escolas. Nas escolas "inadequadas", ressalta o
médico).
"Não tenho muita
escolha", disse Anderson, que é
pediatra e atende muita
s famílias pobres no condado de Cherokee, ao norte de
Atlanta (EUA).
"Nós, como
sociedade, decidimos que custa caro demais modificar o ambiente
da criança.
Logo, temos que modificar a criança." (por gentileza,
leia novamente
essa frase dita pelo médico Michael Anderson).
Anderson é um dos proponentes mais francos de uma ideia que vem
suscitando interesse
entre alguns médicos. Eles estão prescrevendo estimulantes
a alunos que enfrentam
dificuldades em escolas às quais faltam recursos.
Prescrevem os medicamentos não
necessariamente para tratar um TDAH, mas para
favorecer o desempenho acadêmico dos alunos
.
(Eu não acredito que esteja lendo/transcrevendo
para cá esse trecho...
Estamos falando de algo abominável, de algo como o que
foi feito há décadas atrás
com a sífilis, com as comunidades africanas onde a
indústria farmacêutica se instalou -
você assistiu "O Jardineiro Fiel?" -,
estamos falando de drogar, com o aval da
medicina, pessoas menos favorecidas
financeiramente...).
Ainda
não está claro se Anderson é representante de uma tendência crescente.
Mas
alguns especialistas observam que, enquanto estudantes ricos abusam de
estimulantes
para elevar suas notas já boas em faculdades e colégios, esses
medicamentos v
êm sendo usados com crianças do ensino básico, de famílias de
baixa renda,
que têm notas fracas e cujos pais estão ansiosos por vê-los ter
aproveitamento
escolar melhor. (Os pais estão ansiosos para verem seus filhos se
transformarem,
às custas de sua saúde, de sua
integridade física e mental, às custas da
dependência química, em outras
pessoas.).
"Nós, como sociedade, não nos dispomos a investir em intervenções não
farmacêuticas
muito boas para essas crianças e suas famílias", disse Ramesh
Raghavan, pesquisado
r de serviços de saúde mental para crianças na Universidade
de Washington e especialista
no uso de medicamentos vendidos com receita médica
entre crianças de baixa renda.
"Concretamente, estamos forçando psiquiatras que atuam nas comunidades
locais a
usar a única ferramenta da qual dispõem: os medicamentos
psicotrópicos." (Forçando?!
Forçando psiquiatras a
drogar as crianças?! A sociedade - essa malvada - está forçando
os psiquiatras -
esses coitados - a consumir produtos da indústria farmacêutica - essa pobre?!
Que inversão brutal de contexto é essa?!).
A
psiquiatra infantil Nancy Rappaport, de Cambridge, Massachusetts, que trabalha
com crianças
de renda mais baixa e suas escolas, acrescentou: "Estamos vendo
isso cada vez mais
. Estamos usando uma camisa de força química em vez de fazer
coisas que são igualmente
ou até mais importantes."
Anderson diz que seu instinto é de um "pensador de justiça
social", alguém que quer
"nivelar o
campo um pouco". Ele diz que as crianças com problemas acadêmicos que
ele atende
estão, basicamente, em desarmonia com
seu ambiente -- são peças
quadradas que
não se encaixam nos furos redondos do ensino público.
Como suas famílias
raramente têm meios para pagar por terapias de base comportamental,
como aulas
particulares e atendimento psicológico à família, a medicação, segundo ele,
torna-se o modo mais confiável e prático de redirecionar o aluno no sentido do
sucesso.
Que espécie de xenófobo é esse, que se autoproclama um justiceiro social,
às custas
da integridade e autonomia de crianças e jovens pobres?! Em desarmonia
com seu ambiente?
Então são os ricos os ambientalmente harmônicos, com os quais
os pobres devem
ser equiparados?
"Não
dou a medicação a alunos que estão tirando notas boas", ele explicou. Para alguns pais,
o medicamento traz grande
alívio. Jacqueline Williams disse que não consegue
agradecer Anderson o
suficiente por diagnosticar TDAH em seus filhos
--Eric, 15 anos, Chekiara, 14, e
Samhya, 11-- e prescrever Concerta, um estimulante de
ação prolongada, a
todos. Williams disse que cada um deles
estava tendo dificuldade
em ouvir as instruções dos professores e concentrar-se
na lição de casa.
(Quantas Jacqueline Williams existem por aí, que conhecemos,
que ouvimos
agradecer ao santo psiquiatra que diagnosticou seus filhos, em
consultas de meia hora,
com portadores de transtornos como o TDAH? Que espécie
de mãe gosta de ver seus filhos
usando drogas psicotrópicas lícitas para que
sejam domados, moldados, dopados e parem
de dar trabalho? que espécie de ensaio
sobre a cegueira é esse?).
"Meus
filhos não queriam tomar o remédio, mas falei a eles: 'Essas são suas notas
quando vocês estão tomando, e essas são de quando não estão', e eles
entenderam",
ela contou, observando que o Medicaid cobre quase todos seus custos
com o médico e
os medicamentos. (Eles entenderam. Eles entenderam que são defeituosos,
doentes,
com problemas, que precisam ser consertados, que não são normais, que
não podem
tirar boas notas sem medicação, são marginais no sentido de à margem
da normalidade.
Sim, eles entenderam. Entenderam como sua mãe só quer seu bem,
ainda que não se
dedique ativamente para ajudá-los no entendimento e aceitação
de suas diferenças,
ainda que estejam em escolas despreparadas para receber o
diferente, mas que acolhe -
com prazer e sem drogas - os filhos do
sistema).
Alguns
especialistas não veem grande problema no fato de um médico responsável
usar
medicamentos contra TDAH para ajudar um estudante em dificuldades.
Outros
--mesmo alguns dos muitos, como Rappaport, que são a favor do uso de
estimulantes
no tratamento do TDAH clássico-- temem que os médicos estejam
expondo as crianças
a riscos físicos e psicológicos não justificados. Alguns
efeitos colaterais relatados dos
medicamentos já incluíram a supressão do
crescimento, aumento da pressão sanguínea
e, em casos raros, episódios
psicóticos. (Temem que os médicos estejam expondo
crianças a
riscos?
Temem? Quantos
neurônios funcionantes são necessários para ver a verdade gritante de
que essas
crianças estão sendo drogadas, de que se está criando um grupo dependente,
controlado por medicação? De que isso é um crime contra a criança e o
adolescente?
Que é um crime contra os
direitos humanos?).
O
transtorno, que se caracteriza por desatenção e impulsividade graves, é um
diagnóstico
psiquiátrico cada vez mais comum entre crianças e adolescentes
americanos: em 2007,
considerou-se que cerca de 9,5% dos americanos de 4 a 17
anos tinham o transtorno,
segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças,
ou 5,4 milhões de
crianças e adolescentes
(Então me digam, meus amigos. Há realmente um
transtorno ou foi inventado
para controle social?
O que de fato é comum, o
diagnóstico ou a tentativa de dominação e opressão?
O que realmente é grave
nisso tudo? Onde entra nesta classificação nosológica a
opinião do médico em
questão - e de tantos outros - sobre ser uma doença
inventada?).
A
prevalência relatada do transtorno vem subindo constantemente há mais de uma
década,
com alguns médicos satisfeitos com seu reconhecimento amplo, enquanto
outros receiam que o
diagnóstico e os medicamentos para tratar o transtorno
estejam sendo dados pouco
criteriosamente, de modo que exclui terapias não
medicamentosas. (O que exatamente
vem subindo
constantemente, a prevalência do transtorno ou a intolerância às diferenças?
A
prevalência do transtorno ou o despreparo das famílias e das escolas? A
prevalência do
transtorno ou o mercado farmacêutico? Quando alguns médicos
sentem-se satisfeitos com
seu reconhecimento
amplo, do que se está falando mesmo? De saúde pública ou de saúde
financeira?).
O DEA
(órgão dos EUA que fiscaliza medicamentos) classifica esses medicamentos
comosubstâncias controladas de nível dois, porque são criadores de dependência.
Segundo muitos especialistas, ainda não
se conhecem bem os efeitos de longo prazo do uso
dos medicamentos por períodos
extensos. Alguns deles temem que as
crianças possam
se tornar dependentes dos remédios até a idade adulta, muito
depois de quaisquer sintomas
do TDAH terem se dissipado. (E se não se
conhecem bem os efeitos de longo prazo do uso
dos medicamentos por períodos
extensos, o que são essas crianças além
do grupo teste?
Por que falamos tanto em defesa dos animais de experimentação
enquanto crianças e jovens
pobres estão servindo de ratos de
laboratório?).
De acordo com diretrizes publicadas no ano passado
pela Academia Americana de Pediatria,
os médicos devem empregar uma de várias
escalas de classificação comportamental,
algumas das quais incluem dezenas de
categorias, para se certificar de que a criança se
enquadra apenas nos critérios
do TDAH e não apresenta outra condição relacionada,
como a dislexia ou o
transtorno desafiador opositivo, em que raiva intensa é dirigida
contra figuras
de autoridade.Mas um estudo publicado
em 2010 no
"Journal of Attention Disorders"
sugeriu que pelo menos 20% dos médicos disseram não
seguir esse protocolo quando fazem
seus diagnósticos de TDAH, sendo que muitos
seguem seus instintos pessoais.
(Instintos pessoais? Que método de diagnóstico é esse? De que in$tinto$ pe$$oai$ estamos
falando?).
Na estante da cozinha da família Rocafort, de Ball Ground, Geórgia, ao
lado da manteiga de
amendoim e dos cubos de caldo de galinha, há uma cesta
metálica repleta de remédios das
crianças prescritos por Anderson: Adderall para
Alexis, de 12 anos, e Ethan, 9; Risperdal
(um antipsicótico para a estabilização
de estados de ânimo) para Quintn e Perry,
ambos de 11 anos;
e Clonidine (um
sonífero para contrapor-se aos outros medicamentos) para as quatro crianças
, que
o tomam todas as noites. (Escrevo sozinha na madrugada. Nesse momento,
choro de
tristeza.
Não somente por saber que crianças estão vivendo essa abominação. Mas
porque estou
profundamente envergonhada. Sou doutora em neuropsicofarmacologia,
estudei os efeitos
cerebrais das drogas psicoativas, muitas vezes em busca de
novos compostos existentes
na flora brasileira. Sinto-me muito mal nesse
momento... O que estão fazendo com o trabalho
dedicado de tanta gente? O que
estão fazendo com os anos de estudo de tantas pessoas?
E, pior: o que estão
fazendo com essas crianças? A partir daqui, não mais comentarei a matéria.
Deixarei que você ouça sua própria voz interior ao ler o que vem abaixo. Quero
que você
veja com seus próprios olhos. Quero que você enxergue a nossa sociedade
e o que estamos
fazendo com nossas crianças.).
Quintn começou a tomar Adderall para o TDAH cinco
anos atrás, quando seu comportamento
rebelde na escola suscitou telefonemas para
sua casa e suspensões. Ele imediatamente
se acalmou e tornou-se um aluno mais
atento e sério --um pouco mais como Perry,
que também tomava Adderall para o
TDAH.Mas no início do turbilhão
químico
da puberdade, quando Quintn tinha cerca de 10 anos de idade, ele começou a
envolver-se
em brigas na escola, dizendo que outras crianças estavam insultando sua mãe.
O
problema era que isso não estava acontecendo;
Quintn estava vendo pessoas e ouvindo
vozes inexistentes, um efeito
colateral raro, mas conhecido, do Adderall.
Depois de Quintn admitir ter pensamentos suicidas, Anderson
prescreveu uma semana
num hospital
psiquiátrico local e a mudança de Adderall para Risperdal.Quando
contaram a história, os pais de Quintn o
chamaram e pediram para ele descrever
por que o Adderall tinha sido
receitado."Para me ajudar a prestar
atenção na escola
, fazer minha lição de casa, ouvir mamãe e papai e não fazer o
que eu fazia antes
com meus professores, que os deixava bravos", falou o
garoto. Ele descreveu a semana
que passou no hospital e os efeitos do Risperdal:
"Se eu não tomo meu remédio,
fico tendo atitudes. Fico desrespeitando meus
pais. Sem o remédio eu não estaria
como estou agora."Apesar da experiência de Quintn com o Adderall, os
Rocafort
decidiram usar o remédio com sua filha de 12 anos, Alexis, e seu filho
de 9, Ethan.
Eles não apresentam TDAH, disseram seus pais. O Adderall é apenas
para ajudá-los a
ter notas melhores e porque Alexis estava, nas palavras de seu
pai, um pouco "nem aí com nada".
"Já
vimos os dois lados do espectro: vimos o lado positivo e o lado negativo",
comentou o pai,
Rocky Rocafort. Reconhecendo que Alexis usa o Adderall por
motivos "cosméticos", ele disse:
"Se eles estão se sentindo
positivos, felizes, estão socializando mais e isso os está
ajudando, por que não
usar?"
O pediatra e neurologista pediátrico
William Graf, que atende muitas famílias pobres em
New Haven, disse que uma
família deve ter o direito de decidir se o Adderall pode beneficiar
seu filho
que não tenha TDAH e que um médico pode eticamente (????) prescrever
o medicamento de modo experimental,
desde que os efeitos colaterais sejam monitorados
atentamente. Mas ele disse
temer que o uso crescente de estimulantes desse modo
possa colocar em risco a
"autenticidade do desenvolvimento"."Essas crianças ainda estão
na fase de
desenvolvimento. Ainda não sabemos como
essas drogas afetam biologicamente
o cérebro em desenvolvimento"
, ele
explicou. "Os pais, médicos e professores têm a obrigação de respeitar a questão
da autenticidade, e não sei se isso está acontecendo sempre."
Anderson disse que todas as crianças para as quais
já receitou medicamentos para
TDAH se enquadraram nos critérios. Mas ele critica
esses critérios, dizendo que
foram codificados apenas "para fazer algo
completamente subjetivo parecer objetivo"
. Ele acrescentou que os relatórios dos
professores quase invariavelmente voltam citando
comportamentos que
justificariam um diagnóstico, decisão que descreveu como sendo mais econômica
que médica."
A escola disse que, se
tivessem outras ideias, investiriam nelas, mas que as outras
ideias custam
dinheiro e recurso, comparadas com medicamentos", disse
Anderson.
Vários educadores contatados para este
artigo consideraram o tema do TDAH tão
controverso que se negaram a comentar;
disseram que às vezes é feito uso equivocado
do diagnóstico, mas que, para
muitas crianças, o transtorno gera uma deficiência grave
de aprendizado. O
superintendente de um grande distrito escolar na Califórnia,
exigindo anonimato
para falar, observou que os diagnósticos de TDAH vêm aumentando à medida
que
as verbas para o enino vêm diminuindo.
"É assustador pensar que chegamos a isso, que a
falta de verbas para o ensino
público que possibilitem atender as necessidades
de todas as crianças levou a isso",
disse o superintendente, aludindo ao uso de
estimulantes por crianças que não apresentam
o TDAH clássico. "Isso pode estar
acontecendo aqui mesmo. Talvez não tão conscientemente,
mas pode ser
consequência de um médico que vê uma criança sendo reprovada em salas
de aula
superlotadas com 42 outras crianças, e os pais frustrados perguntando o que
podem fazer. O médico diz 'talvez seja TDAH, vamos experimentar com a
medicação'.
"Quando foi informado que o
casal Rocafort afirma que seus dois filhos que estão tomando
Adderall não têm
TDAH e nunca tiveram, Anderson disse estar surpreso. Ele consultou
as fichas das
crianças e encontrou o questionário dos pais. Cada categoria que avalia
a
gravidade dos comportamentos associados ao TDAH tinha recebido escore cinco
(o
máximo),
com a exceção de uma, com escore quatro.
"Esse é o motivo de minha angústia", disse
Anderson.
"A gente afixa um rótulo a
uma coisa que não é binária --você a tem ou não. Não dizemos
simplesmente que há
um aluno que está tendo problemas na escola, problemas em casa
e que
provavelmente vai tentar um tratamento médico, prescrito pelo médico com
a
concordância dos pais.""Podemos
não conhecer os efeitos de longo prazo do remédio,
mas conhecemos os custos no
curto prazo do fracasso escolar, que são reais. Eu olho
para a pessoa individual
e como ela está agora. Sou médico do paciente, não da
sociedade.
"Tradução de CLARA ALLAIN